Bate-Papo Aragãzinho
Nascido em 9 de fevereiro de 1951, ele carrega o nome do homem mais importante da história de Santa Cruz do Capibaribe. Médico especialista na área obstétrica comandou os destinos de Santa Cruz durante os anos de 1993 e 1996. Dr. Raymundo Francelino Aragão Filho, foi o convidado do Bate-Papo Direto ao Ponto dessa semana, contando um pouco mais de sua vida. Confira.
Memórias
Único dos 15 filhos de Raymundo Francelino Aragão e Dona Petronila Moraes Aragão que não nasceu em Santa Cruz, Aragãozinho não esconde por um minuto o orgulho de ser filho do ‘libertador de Santa Cruz’ e carregar o seu nome. “Uma honra ser filho do grande emancipador de Santa Cruz. Ele junto com seus amigos lutaram pela libertação de nossa cidade e claro que esse é meu maior orgulho”, destaca.
Com uma infância na Rua Padre Zuzinha (antiga Manoel Borba), Ará relembra as peladas na Rua Manuel Borba, com saudade. E ainda as dificuldades superadas por uma cidade que soube se inventar com o trabalho do seu povo. “Era uma cidade totalmente diferente. Conheço pessoas que hoje são bem de vida, mas que naquela época, quando a noite chegava, saíam às casas pedindo resto de comida. E soubemos crescer nas adversidades desse período, com muita dignidade e inteligência do nosso povo”, diz.
Tempos de criança - Além do futebol com bola de borracha, gostava muito de caçar passarinho. “Acho que fui umas 50 caçadas. E muitas delas com Elinando (Dr. Elinando, bastante conhecido na cidade)”, conta rindo.
Estudos
Raymundo Aragão tinha apenas o curso primário, mas com um domínio da leitura, via jornal diariamente e priorizava os estudos dos filhos. Destaque - Fernando Aragão durante participação no Bate-Papo Direto ao Ponto lembrou que foi o tio Raymundo que pegava no pé do seu pai (Seu Alcindo) para que todos os filhos estudassem e se formassem. Foi por conta de Raymundo que a família de Fernando morou alguns anos em Caruaru para que os filhos pudessem estudar.
Guarda na memória o curso primário com a professora Lourdes (Mãe do saudoso Emanoel Glicério). Estudo apenas um ano no Colégio Luiz Alves e os anos de ginásio, no Ginásio Santa Cruz, onde recebeu aula da professora Orlandina. “Aquele tempo de Ginásio era maravilhoso. Com os bailes da época que também eram os melhores”, conta.
Ainda estudou no Diocesano em Caruaru e no ESUDA, na Capital do estado.
Tempos de Recife – Duas escolas
Enquanto se preparava para o curso superior, no Recife, Aragãozinho iniciou, de forma mais ativa, seu ingresso na atividade política, ligado a grupos jovens de esquerda. Entre os duros anos de 1966 e 1967 (Tempos de Ditadura Militar), conta das vezes em que se arriscava jogando bola de gude no asfalto para atrapalhar avanços da cavalaria militar.
Na parte teórica, contava com um professor no bar do Derby. Nada mais, nada menos que Dom Helder Câmara. “O Recife me ensinou muita coisa. Morávamos em 11 amigos, entre ele apenas um que não era de Santa Cruz e no bar do Derby apreciamos diversas palestras de um dos homens mais importares desse país, Dom Helder Câmara”.
No Recife, ainda trabalhou como paginador do Diário Oficial de Pernambuco.
Coisa de mãe - As tentativas de ingressar definitivamente no ensino superior foram adiadas por duas vezes. “Minha vontade era fazer agronomia. Tentei passar no vestibular três vezes, e não consegui. E para fazer medicina minha mãe disse ‘você vai estudar agora em casa’. Eram oito horas por dia com ela supervisionando”, relata.
A tática deu certo. E Ará conseguiu uma vaga na segunda entrada no curso de medicina, na Universidade da Paraíba, atualmente Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Devo um grande favor ao professor Daniel Aragão. Foi quem me ligou na madrugada me informando que tinha passado e precisava fazer a matrícula. A comunicação naquele tempo não era muito boa e consegui falar com ele durante a madrugada”, relata.
Formou-se em Medicina na sexta turma da Universidade. Com cinco anos na Paraíba e mais um em São Paulo é especialista na área obstétrica, e pós-graduado em Administração hospitalar.
Trabalhos - Entre as cidades que trabalhou estão Saloá, Barra de Guabiraba, Sairé, Bonito e Caruaru (Na maioria delas sendo Secretário de Saúde do Município).
Seguindo o pai - Casado com Janete Pereira Aragão desde o dia 26 de Dezembro de 1981. Têm duas filhas: Renata mais velha formada também em medicina e Camila, que é vestibulanda na mesma área.
Política
Garoto, que aprendeu a dirigir cedo, já participava da campanha de Gaudêncio Feitosa, em 1967, na condução de um jipe com uma difusora, pelas poucas ruas da cidade. O pleito foi vencido por Padre Zuzinha. “Eu só não participava das decisões. Mas ficava curioso vendo aqueles homens entrando e saindo lá de casa”, relembra.
Sem nunca ter sido candidato a nenhum cargo eletivo, até então, recebe uma ligação em meados de 1992, onde lhe informavam que seria o candidato. “Estava em Campinas, no interior de São Paulo, e me ligaram dizendo que já tinham feito uma reunião e eu seria o melhor nome para disputar. Voltei de viagem sem conseguir dormir, ainda não estava assimilando bem essa história”, diz.
Sem saber que era filiado ao Partido Socialista Brasileiro, sai como candidato a prefeito, tendo na vice José Augusto Maia, contra Salete Jordão. “Eu nem sabia que era filiado. Eu não queria. Dionelma certa vez chegou com uns papeis para assinar e nem sabia que era a filiação”, conta.
Campanha
Seu primeiro discurso como candidato aconteceu na Rua Lázaro Davi Monteiro. Aquela que seria primeira rua calçada após sua vitória nas urnas. A campanha foi uma das primeiras a ter uma estrutura de marketing, com assessores contratados para dar dicas de posturas, falas e gestos.
Com o decorrer da campanha, Ará tinha certeza da vitória. Mais que o povo nas ruas, era balizado por pesquisas que constantemente tinha em mãos. “De 15 em 15 dias tínhamos uma pesquisa. A primeira já mostrou a gente com uma frente. Isso deu animação. Mas isso era pra um grupo fechado, trabalhamos dessa forma”, relembra.
Gestão
A vitória aconteceu com uma diferença de 903 votos. Era hora de comandar os destinos da cidade pelos próximos quatro anos... “Naquela época era uma dificuldade incrível. E montar a máquina num período de grande seca que tivemos, como a de 1993, foi muito pior”, conta.
Deixando o vice
Para piorar, após uma viagem de 20 dias realizada a Israel, muita coisa foi modificada pelo seu vice-prefeito José Augusto Maia, que comprometeu o término do governo.
“Primeiro ele nomeou os concursados, sem a minha presença. Detalhe: foi o primeiro concurso público que essa cidade teve. Ele nomeou e deu 20% de aumento salarial para todos os funcionários”, lembra e faz uma crítica logo em seguida. “Zé foi prefeito durante 8 anos, pergunte a ele quanto deu de aumento durante esse tempo”.
O governo de Aragãozinho findou de forma desgastante. E após os quatro anos de gestão ele abandou as disputas eleitorais. “Faltou experiência. Depois fui lutar pela minha família e começar de novo. Não me arrependo, gosto de política, mas às vezes muitas pessoas não gostam das minhas posições”, finaliza.
Jogo Rápido
Raymundo Francelino Aragão – Meu pai, meu amigo...É o meu Céu.
Fernando Aragão – Meu compadre, louco para ser prefeito de Santa Cruz e será, se Deus quiser.
Miguel Arraes de Alencar - Para mim não foi bom um governador.
Oseas Moraes – Meu amigo, gente boa.
Toinho do Pará - Boa pessoa. Foi o vereador que dei mais prestígio durante o governo.
Edson Vieira – Primo, amigo, só não votei nele... Tá administrando Santa Cruz com dificuldade
Diogo Moraes – Meu amigo e nos damos muito bem.
José Augusto Maia - Gente boa, tranquilo. Não tenho adversidade com ele, cada um tem seu ponto de vista.
Helinho Aragão – Meu sobrinho, afilhado e amigo. Um dos meus amores.
Santa Cruz do Capibaribe – Tudo na minha vida. Sou muito grato a Santa Cruz do Capibaribe. Minha terra, a terra que me pai libertou.