Bate Papo Hildo Teixeira
O inconfundível “Vai começar tudo de novo” a cada eleição em
Santa Cruz do Capibaribe tem dono: José Hildo Teixeira Belo. Cantor,
compositor, radialista e apresentador, Hildo trouxe no bate-papo Direto ao
Ponto, da ultima quarta-feira (19), muitas de suas histórias de vida, que você
acompanha nas próximas linhas.
Infância
Nascido em 3 de maio 1966, no sítio Pau Ferro, Hildo foi o
único filho homem do casal Josefa Teixeira Belo e Jurandir Alves Teixeira, e
foi criado com os avós Liliosa e Henrique Alves. Muita gente confunde seu local
de nascimento e ele explica logo o motivo. “Eu falo Capoeiras por que existem
documentos de lá. Na verdade nasci no Sítio Pau Ferro e dentro do sítio corre o
Rio Riachão. Uma parte do terreno fica em Pesqueira, do outro São Bento e
Capoeiras”, diz.
Trabalho chegou cedo - “Com 10 anos já tirava leite, fazia
queijo, vendia nas feiras...”, conta.
Dos primeiros trabalhos, Hildo se lembra do comercio em
Pesqueira, onde nas terças e quartas-feiras cortava charque e ensacava açúcar.
“Trabalhei primeiro com Seu Casaquinha e depois com Geraldo, filho dele”.
Menino precoce
O gosto pelo rádio e pelo microfone apareceu logo cedo.
Ouvindo Arnaldo Marques, Oaulo Junior, Antônio Marcos, Saulo Gomes, Elias
Lourenço e tantos outros o pequeno Teixeira foi pegando cada vez mais gosto
pelas ondas sonoras vindo daquele objeto. “Eu não sou velho, mas ainda peguei
novela no rádio”, brinca.
Aos 12 anos começou a falar no microfone. Como ele mesmo
diz, ‘moleque enxerido’. “Hoje tenho raiva, quando chega um moleque e fica
‘alô, alô’, mas comecei assim. Logo num comício. Foi numa calçada ao lado da
igreja um carro de som próximo, sem muita estrutura e comecei a gritar ‘vem ai
o bom velhinho’”, conta acrescentando que à época existia forte propaganda
associando ao Frei Damião, chamado de bom velhinho, e o candidato, dono do
comício, era João Cleofas já em idade avançada e cabelos brancos. “Meu avo era
bem entrosado, era cabo eleitoral dessa turma e as pessoas começaram a me
chamar de ‘o filho de Anrique’ (Henrique)”.
Aos poucos, o jovem ia galgando seu caminho e buscando
espaços, apresentando shows e cantando forró. “Veio tudo junto. Não tenho como
desvincular e saber o que foi primeiro”, diz.
Com a dupla de aboiadores Vavá Machado e Marcolino, fazia as
festas da região, numa Rural, num carro de som da Cachaça Mucuri. Foram os
primeiros passos para apresentação de artistas com renome nacional como Sergio
Reis e o Rei do Baião Luiz Gonzaga.
Tempos de Exército
Aos 18 anos, por influência de um tio tenente do exército, o
recém-maior de idade Hildo Teixeira ingressou nas forças armadas, em Garanhuns.
“Achava muito bonita a farda e as histórias que ele me contava e disse que
queria também”, recorda.
Hildo conta que o curso com recrutas tinha 90 dias de
duração e iniciou com 75 homens. “Os primeiros 30 dias foi uma ralação danada,
e ao fim dessa primeira etapa perguntaram quem queria sair e muitos saíram, mas
eu fiquei. Passado mais de 60 dias aconteceu o mesmo, perguntaram quem queria
sair e eu saí”, lembra.
O erro – Após a saída ele conta que os 29 homens que
permaneceram foram para uma sala de aula, apenas com aulas teóricas e logo
foram promovidos. “Eram 49 vagas e terminou com apenas 29. Fiquei sabendo
depois que aqueles 29 passaram de cabo para sargento e eu tinha saído. Foi um
erro meu, mas é quando tem que ser”.
Histórias no rádio
No início de carreira, Hildo perdeu uma vaga para um dos
principais âncoras do rádio Santa-cruzense hoje. Ainda jovem, não sabia quem
era o outro garoto chamado Sílvio José...
“No final da seletiva chegou Arnóbio Marques e disse que
tinham três que poderiam ser aproveitados, no entanto só existia uma vaga e
Sílvio com um vozeirão danado, contava muito. Uns 15 dias depois ele já estava
fazendo um programa lá”, recorda.
Em Belo Jardim - Apresentando eventos em Pesqueira, foi visto por Mendocinha
que percebendo a desenvoltura do rapaz, lhe fez a indicação para rádio Bituri
de Belo Jardim, onde apresentou entre outras coisas, forró e programa policial.
No policial... – Foi onde pagou um mico, como todo bom
profissional. O informativo era o ‘janela aberta’, apresentado por João Torres,
gerente da Rádio. E era líder de audiência no horário. Hildo foi verificar uma
ocorrência, onde uma pessoa havia sido morta. E ao vivo para trazer a
informação soltou a seguinte pérola “O cadáver está morto”.
Em Santa Cruz do Capibaribe
Trabalhando em campanhas do deputado Mendonça Filho chegou à
terra Santa, na eleição de 1988. A disputa em Santa Cruz do Capibaribe era
entre Oseas Moraes e Ernando Silvestre, tendo o segundo como vencedor.
Ainda com o cabelo encaracolado, Hildo era a novidade que
tinha como peças principais, na função, Gogo de Ouro e Ronaldo Pacas. “Cheguei
naquela campanha. Zé Mendonça colocava a gente pra puxar as passeatas”,
recorda.
Com pouco tempo foi efetivado na Rádio Vale do Capibaribe,
onde trabalha até os dias atuais. “Houve um problema com compadre Neto e surgiu
uma oportunidade de 90 dias. Eu já fazia quase tudo no rádio e em 1 de janeiro
de 1989 fui registrado”, conta acrescentando que à época a rádio tinha a
direção de Colares.
O nascimento do bordão - O ‘Vai começar tudo de novo’ é
marca garantida no histórico político de Santa Cruz e surgiu de repente após um
simples atraso. “Teve um tempo que fazia 90 dias de comício e após isso ainda
tinha as passeatas. Teve um dia que ficamos até às 4 da manhã e às 10h tinha
uma feijoada no Santo Agostinho. Eu peguei no sono dentro do Bocão (carro das
campanhas) e Rita e Alda chegaram gritando ‘bora, bora’... E foi quando eu abri
e disse ‘Vaaaaai começar tuuuuuudo de novo’. O povo se animou e eu percebi, que
encontrei o caminho”, conta.
Vida de forrozeiro
Amante do ‘forró autentico’, Hildo Teixeira começou a cantar
jovem em pequenos eventos. E é criador do ‘Arraial da Vale’, uma das festas
mais populares da região e que se aproxima dos 20 anos de existência.
Cantou na banda Sabor de Mel, pertencente ao hoje
vereador Ronaldo Pacas. (Tinha como companheiro Nilton Lima) e também com vira
copos, dos catanhas.
Participou dos LP´s: Canta Nordeste, Haja Coração e Mistura
perfeita. Alguns forrozeiros fazem parte dessa história, como Jorge Andrade,
Toinho Catanha, Dedé Sanfoneiro, Carlos Piaba, Nenem Chagas, Messias Barros,
entre tantos outros.
Após a trágica morte de Dedé sanfoneiro, Hildo se afastou
dos palcos. “Até tentamos com outro sanfoneiro, depois morreu também e deixamos
para lá”, conta resignado.
História do Arraial da Vale
“Não tenho conhecimento, no Nordeste de algo semelhante”,
diz orgulhoso, ao que chama de ‘sua alegria’. Iniciado em 4 de
janeiro de 1997, primeiro sábado do ano, o evento leva forró e animação por bairros,
comunidades, distritos e sítios da cidade e região, sendo levado até para o
município do Rei do Baião Luiz Gonzaga, cidade de Exu.
“O primeiro foi no Lula do ‘Chique Chique bar’. Tinha o
‘Vaqueiro na Fazenda’ de Natálio Arruda que eu já acompanhava. Mas ele perdeu a
eleição e ficou desgostoso. Eu fazia o forró na Vale, na Avenida Padre Zuzinha
e dava muita gente. Decidimos fazer em frente da rádio embaixo de uma rádio,
deu certo e como Natálio tava acabando com os eventos decidimos ir para os bares
da cidade. Já fiz em Barra de São Miguel, Riacho de Santo Antonio, Exu, entre
outros”, conta.
Futebol
No início da década de 90, a rádio Vale realizou grandes
coberturas futebolísticas por todo o país, e Teixeira formava a equipe de
trabalho ao lado de profissionais como Antônio Carlos, Mauricio Sobrinho, José
Leite, Jonas Torres, José Bezerra e tantos outros. “Fiz jogos mo Rio, São
Paulo, Paraná , Rio Grande de Sul... apenas não fiz no Espírito Santo e Santa
Catarina. E aqui, no Nordeste inteiro”, diz orgulhoso.
O jogo - Em 16 de dezembro de 1992, Hildo Teixeira cobriu a partida
entra Brasil e Alemanha, no Estádio do Beira Rio, sendo o repórter a sair de
mais longe de onde acontecia a partida, dentro do país. Por isso recebeu uma
medalha dos organizadores do evento e foi escolhido para fazer uma pergunta a
um ilustre craque do futebol mundial.
“Foi uma doideira. Era o aniversário da RBS (Organizadora do
evento) e muita gente ganhou medalha e troféu. E ganhei por ser o repórter de
campo mais distante. E vou passando orgulhoso, com a medalha e o crachá pela
ala de imprensa e vejo Parreira e Bebeto, da seleção Brasileira e Lothar
Matthäus, que estava sendo homenageado também, pela Alemanha. E surgi meu nome
no telão em cima: ‘Hildo Teixeira, rádio Capibaribe Pernambuco’, o repórter da
Sociedade da Bahia me empurra e diz ‘vai é tu’... e fiz a pergunta. ‘Quarta
Copa do Mundo... Como é disputar a quarta Copa do Mundo, Lothar Matthäus?”,
imaginando que teria alguém para traduzir ao jogador. “Não tinha é problema dele”
completa aos risos.
A partida foi finalizada com o placar de 3 a 1 para a equipe
canarinha.
Jogo rápido
Arraial da Vale – Minha alegria
Rádio Vale do Capibaribe – Minha força
Dede Sanfoneiro – Meu irmão que se foi
Neidinha de Dedé –Minha irmazona
Ronaldo Pacas – Outro irmão
Egídio Amorim - Mais um irmão
Antônio Carlos ‘Toin Sulanca’ – meu grande conselheiro e compadre
José Augusto – Capitão de um time que está desentrosado
Dimas Dantas – Político dúbio
Família Mendonça - Honrada acima de tudo e de palavra
Ernando Silvestre – Um marruá adormecido
Digo Moraes – Político de um presente e futuro tranquilo
Edson Vieira – Administrador futurista
Augustinho Rufino – Exemplo de homem público a ser seguido
Santa Cruz do Capibaribe – Minha covinha... onde vou me enterrar, minha
mãezona.
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