Bate-papo com Joãozinho Aboiador
“Querida esse nosso
amor ainda está em começo
Me responda por favor
seu nome seu endereço, e outra coisa também
Não converse com
ninguém, nem sequer um só momento
Não
maltrate quem lhe adora que eu vou lhe dizer agora quanto sou ciumento”.
Foi dessa forma que se
iniciou mais um bate Papo, o artista santa-cruzense Joãozinho Aboiador foi o convidado
para mais uma edição deste programa que busca histórias de quem tem o que contar. E para
conhecermos melhor um dos defensores da cultura popular do município, você
confere abaixo toda sua trajetória.
João Bezerra de Lima, mais
conhecido por “Joãozinho Aboiador”, nasceu em 16 de janeiro de 1966 no Sítio
Pedra Preta, Zona Rural de Taquaritinga do Norte-PE. Ele é filho de Elias João
de Lima e Maria Bezerra de Assis. É casado com Rejane Ferreira de Lima e tem
duas filhas, Clécia Ferreira de Lima e Maria Kelly Ferreira de Lima.
Atualmente é radialista e
comerciante, conta com dois programas que tem ritmos de vaquejada, sua paixão
desde cedo, um é na Rádio Vale AM e Rádio Farol FM, denominado Terreiros da
Fazenda e veiculado aos sábados.
Infância
Joãozinho começou sua vida
no Sítio Pedra Preta, onde passou por dificuldades entre elas à seca que
castigava aquela região. “No tempo que morei lá era uma dificuldade e nós
enfrentamos a roça, onde trabalhei com meu pai e minha mãe aos sete anos de
idade, mas antes disso, ainda trabalhei batendo tijolos, limpando matos, fazendo
cercas, cortando madeiras e fazendo carvão, fiz e faço tudo isso se precisar
novamente”, relembrou.
Na sua infância, Joãozinho
conheceu as literaturas de cordéis e começou a se interessar pelo ramo, afirmou
que não era tímido para realizar as cantorias e lembrou que quando vinha no
famoso caminhão Pau-de-Arara. “Eu cantava algumas canções no caminhão Pau-de-Arara
e as pessoas que vinham conosco me davam dinheiro por isso, depois disso meu
pai me levou para cantar no serviço que ele trabalhava, que era de marchante, e
seus companheiros de trabalhos também gostavam da minha inteligência”,
destacou.
Relembrando a sua infância,
Joãozinho Aboiador disse que uma vez quase morre afogado em um barreiro na
localidade. “Morreu um gato e nós fomos jogar ele, e quando voltamos
encontramos um barreiro onde meus amigos me chamaram para pular dizendo ser
raso, e eu pulei, quando pulei eu toquei no chão da barragem e bati com o pé na
lama por três vezes, aí um deles que era Rosélio me segurou e em me agarrei
nele, com isso descemos os dois por mais duas vezes, e ele me soltou, aí Heleno
me pegou embaixo do braço e me tirou da água, foi muita aventura”, citou.
Após
o trauma, a experiência – Mesmo com o trauma de quase ter morrido
vítima de afogamento, Joãozinho afirmou que até nas coisas tristes pode se
fazer uma poesia, e que tem um dom para isso. “Cada pessoa nasce com um dom,
não é fácil enfrentar esses problemas e no meu caso, foi um dom que Deus me deu
para que eu pudesse cantar falando das secas, do amor, do gado e dos brilhantes
trabalhadores rurais, que demonstrar coragem em suportar todas essas
dificuldades”, disse.
Família
Criado de forma muito
honrosa por seus pais, Joãozinho e seus irmãos tiveram ensinamentos que jamais
foram esquecidos. “Meus pais sempre nos diziam que deveríamos respeitar as
pessoas e sempre ter fé em nossas crenças”, disse.
Teve avós que, de certa
forma, influenciaram na sua decisão de seguir a carreira artística e de
vaquejada. “Meu avô, um era vaqueiro do gibão e o outro era carpinteiro, e
vendo eles fazendo isso eu fui me interessando pela área, principalmente para o
ramo de vaquejadas, mesmo sem ser vaqueiro eu me espelhei em meu avô e atuo
como artista na área que ele sempre gostou”, relembrou.
Estudos
Aluno de todo ensino
fundamental em Pedra Preta, Joãozinho lembrou que estudou até a 4º série na
Zona Rural e a partir da 5º veio estudar na Escola Maria Lúcia Alves, em Santa
Cruz do Capibaribe.
“Estudei até a 4º série em
Pedra Preta e depois vim para Santa Cruz, onde estudei na Escola Maria Lúcia
Alves da 5º à 8º série, e aí resolvi casar e não deu para terminar o ensino
médio, depois vieram as minhas filhas e foi aí que tomei conta que não dava
mais para dar continuidade”, relembrou.
Sempre
foi um aluno dedicado - Apesar de ter uma infância com algumas
“traquinagens”, ele relembra que quando aluno não teve a mesma intenção, sempre
buscou se dedicar ao máximo e não teve problema algum na sua fase de estudante.
“Eu nunca joguei sequer um papel na sala, nessa fase fui comportado e evitei
ser treloso”.
Trabalhos
Ainda durante a infância
teve que iniciar os trabalhos desde cedo, onde começou a pegar na inchada e
roçar mato, além de outros tipos de trabalho que Joãozinho enfrentou.
“Trabalhei com muitas coisas, bati tijolos, limpei matos, fiz cercados, plantei
e colhi e coisas mais”, relembrou.
Vinda
à Santa Cruz do Capibaribe – Ainda em 1979, ele veio a
Santa Cruz do Capibaribe onde veio por quase um ano morar na Rua Luíza Mendes,
e em 1980 decidiram voltar para o Sítio Jerimum, seu pai havia construindo uma
casa e voltaram a trabalhar nas roças. “Em 1979 morei na Rua Luíza Mendes por
quase um ano, onde em 1980 meus pais resolveram voltar para a roça e fomos até
o Sítio Jerimum, plantamos novamente, meu pai construiu nossa casa e lá
ficamos”, frisou.
Em 1986, ele veio de forma
definitiva para a cidade, a pedido de uma pessoa que tornara seu amigo à época,
José Duda, a quem havia feito amizade e deixado a possibilidade de trabalhar
com ele. “Estava em casa e quando menos espero, chega Zé Duda, dizendo que
havia arranjado um emprego pra mim, eu falei com meus pais e eles deixaram eu
vim trabalhar com ele, foi onde fiquei de forma definitiva, passei dois anos e
foi nessa época que entrei na Rádio Vale AM”, relembrou.
“Quando vim de forma
definitiva, entrei na rádio Vale AM em 1986, na época tinha Natálio Arruda,
Zuzinha Aboiador e Hino Emiliano, aí comigo completou quatro apresentadores e
com isso me aperfeiçoei mais”, disse.
Desafios
de se habituar ao rádio – Contando em linhas rápidas, sua
experiência na rádio foi de forma tranquila, onde se habituou e teve um
resultado expressivo onde começou a trabalhar com Natálio Arruda. “Não foi
difícil de me habituar porque sempre acompanhei as apresentações de Zuzinha
Aboiador e por gostar eu sempre estava atento aquilo”.
30
anos no ar – Completando seus 30 anos de programa no ar, Joãozinho
disse que não esquece dos melhores momentos durante todo esse tempo, e
principalmente quando assumiu o programa para si, com a saída de Natálio
Arruda. “Natálio Arruda foi candidato a vereador e conseguiu ganhar, aí devido
não ter tempo ele pediu para sair do programa e o diretor da rádio que na época
era Professor Colares, me perguntou se eu queria assumir o programa e eu
topei”, destacou.
Vida
Artística
Sua vida artística foi
iniciada quando ele percorria nas feiras de Santa Cruz do Capibaribe, onde seus
pais vinham realizar as compras das verduras. “Meu pai comprava literaturas de
cordel e eu gostava muito de ler aquilo, fui tomando gosto e aprendi as canções
e toadas e depois despertei e vi que poderia ser um grande cantador de
cordéis”, destacou ele.
Primeira
poesia - Questionado sobre a sua primeira poesia, Joãozinho
disse que lembra exatamente qual foi e deu alguns trechos dela.
Confira:
“Querida
esse nosso amor ainda está em começo
Me
responda por favor seu nome seu endereço, e outra coisa também
Não
converse com ninguém, nem sequer um só momento
Não
maltrate quem lhe adora que eu vou lhe dizer agora quanto sou ciumento”.
Dificuldades
na gravação de seus LP´s/CD´s
Com várias dificuldades nas
gravações de seus discos, o artista Joãozinho disse ter passado por situações
diversas, a exemplo de dormir em gravadoras, ter que realizar bingos
beneficentes com o intuito de arrecadar dinheiro para bancar seus discos. “A
gravação de meu primeiro CD só foi possível com a doação de alguns garrotes de
amigos meus, onde fiz um bingo e conseguir arrecadar um valor próximo do
esperado e depois trabalhei mais um pouco e conseguir a gravação do meu
primeiro LP”, cita.
Bento
da Zabumba, um grande amigo – Companheiro leal e fiel, é
assim que ele define o popular Bento da Zabumba, que esteve acompanhando o
mesmo durante boa parte de sua vida artística, para Joãozinho, ele representa
muito mais que um amigo e que devido a sua dedicação a carreira do aboiador,
ele teve a ideia de colocar Bento na capa de seu disco.
“Uma certa vez estive em Monteiro-PB e havia algumas
pessoas aboiando, eles não me reconheceram e quando me apresentei”
Entrou
na política local
Em 1992 foi candidato a
vereador pelo Partido Social Trabalhista (PST), e obteve 343 votos, não foi
eleito mais destacou que não tinha recursos para investir na campanha e que
ficou surpreso com a votação. “Eu não tinha nenhum dinheiro, e então dessa
forma como eu iria me eleger se não tinha como investir na campanha, mas não me
importei por não ter entrado, acho que a vida não me quis político”, definiu.
52610,
25610...
Na disputa, utilizou o
número 52610 e durante aquela campanha também teve a companhia de João Nunes
que veio com o número 25610, e Joãozinho afirmou que devido os números serem
parecidos alguns eleitores confundiram os candidatos.
Curiosidades
- Participou dos 100 anos de
Gonzagão, onde cantou na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), com a
presença de vários meios de comunicação e personalidades reconhecidas
nacionalmente, sendo aplaudido por todos.
- Já teve participações na
TV, no Programa de Ivan Ferraz onde pode levar o nome de Santa Cruz do
Capibaribe para todo o estado, além de ficar mais conhecido.
- Esteve participando de
dois Festivais de aboios e toadas, o primeiro ficou em segundo lugar, e Galego
Aboiador em primeiro, e no segundo, ele desbancou Galego.
- Seus maiores sucessos
foram Mulher do Short Apertado, Mulher de Loteria, Se um dia eu deixar de ser
vaqueiro, vou morrer com saudade da boiada, Menina de 12 anos.
- Lançará ainda este ano seu
mais novo CD, que conta com a participação de sua filha Clécia Ferreira.
Jogo
Rápido
Pedra
Preta – Minha Terra
Homem
do Campo – Eu, homem trabalhador
Família –
Tudo
Política – É
tão complicado que não sei responder
Religião –
Deus
Poesia
Popular - Gonzaga
Santa
Cruz do Capibaribe – Minha segunda mãe, não nasci aqui mas
tenho amor por essa terra.
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