Bate papo Ronaldo Pacas
Nascido em 27 de setembro de 1962 em Santa Cruz do Capibaribe, pioneiro na comunicação ‘em carro de som’ na cidade, dono de uma das vozes mais reconhecidas na Região e atualmente um dos 17 representantes do povo na Casa José Vieira de Araújo, José Ronaldo Paca, foi o convidado especial dessa semana, do “Bate-Papo Direto ao Ponto”.
Infância e juventude
Trabalhador desde criança, Ronaldo Pacas é reconhecido, pelo que faz em Santa Cruz e toda Região, pela sua militância no Rádio e por inúmeras campanhas políticas, em guias eleitorais. Contudo, poucos sabem que ele já foi “especialista em conserto de catracas de bicicleta”, como fala orgulhosamente.
“Comecei a trabalhar com 10 anos, concertando bicicletas com “Davi da bicicleta”, na Rua do Vento. Estudava pela manhã e a tarde ia para oficina. Era especialista em catraca de bicicletas, concertava com uma linha de náilon, não era todo mundo que fazia”, recorda.
Foi também nessa época que aprendeu a dirigir e também ajudava o pai no transporte de populares às feiras da região. Pouco tempo depois, comprou seu primeiro veiculo: Um fusca. “Ajudava meu pai no transporte. De santa Cruz para o Algodão e fazia a feira de Surubim, ajudando a descarregar. Na minha vida tive trabalhos desde cedo, me orgulho disso”, conta e acrescenta mais à frente. “Aos 12 anos comprei meu primeiro carro. Um fusca azulzinho, ano 72 que veio da Bahia, um jogador de futebol que trouxe. Nessa época eu era presidente de uma turma e a gente fazia bailes também. Com Renato e Seus Blue Caps, Placa Luminosa... e numa das festas com o Clodoaldo Moreira, sobrou dinheiro e compramos um carro para cada um”.
Carreira na Comunicação
Com uma das vozes inconfundíveis da região e ouvida em diversas partes do Brasil, Ronaldo iniciou expondo seu talento na “Amaral Publicidade”, uma divulgadora de Francisco Amaral.
“A Amaral Publicidade era na João Francisco Aragão e tinha o próprio Amaral, Jota Oliveira, Geraldo Silva entre outros e eu era um pirralho que na época tinha uma namorada na mesma rua e ficava sempre olhando a divulgadora e ficava por ali ‘piruando’. Certo dia abriu uma vaga para operador, depois locutor e depois um programa ‘De alguém para você’, ainda na divulgadora. Programa que ia até às 10h da noite”.
Nesse período, alto-falantes em algumas das ruas além de carros de som, eram os principais meios de comunicação, da cidade.
Pioneiro no carro de som
Em tempo em que a tecnologia não era lá as das mais avançadas, Ronaldo Pacas se desdobrou para fazer propagandas ambulantes. “Me orgulho em ter sido o primeiro em nossa cidade, a fazer a propaganda dirigindo e falando como microfone na mão. Não existia gravador. Apertava e depois não tinha pausa. Depois que chegou o play decker”, fala.
Ajuda de socorro e nota de falecimento
Ronaldo se lembrou de duas questões com o surgimento e a disseminação de informação e divulgação, através carros de som, em Santa Cruz do Capibaribe.
“Teve uma enchente, na Rua dos Pacas, em que saí convocando o povo para ajudar a resgatar alguma coisa, retirar a mobília. Era um meio de comunicação importante. Foi também quando começou a nota de falecimento, que não tinha em lugar nenhum. E hoje se não fizer nota de falecimento e data para missa, não morreu”.
Ronaldo e Zé, Zé e Ronaldo
Ainda com carro de som, Ronaldo teve uma parceria com José Augusto. Mas não deu muito certo... Ronaldo conta que antes da união, José Augusto, que já era músico ficava observando o trabalho do colega.
“Tinha carro de som aos sábados. Era obrigatório estar próximo ao ‘Alvorada Lanches’ e ficava tocando som até às 10h da noite em frente ao cinema de Joel, tinha até patrocinador. Lembro quando saiu a música menina veneno, de Ritchie foi um sucesso”, diz e continua. “Só tinha eu naquele tempo e Zé ficava por volta, já era músico e ficava ‘piruando’, de vez em quando pegava o microfone também, ele sempre gostou”.
A sociedade que não deu certo
Talentosos para divulgação e habilidosos com o microfone nas mãos, os amigos Ronaldo Pacas e José Augustos Maia, decidiram formar uma sociedade que durou, segundo Ronaldo, até Zé ‘pular o barco’ e comprar um carro que seria de ambos apenas para si.
“Certo São João fizemos uma sociedade. Formos até Cobrinha em Caruaru e alugamos um caminhão que ele não queria pra nada. Alugou para um ano, com expectativas de mais um ano depois. O carro estava pra baixo demos uma recuperada e deu certo. E depois, Cobrinha facilitou muito para vender o carro de uma vez” recorda.
“Pra fazer dinheiro, tínhamos que vender os carros, para com a grana comprar o carro de vez. Eu vendi meu fusca e Zé não vendeu um que ele tinha. Um fusca amarelo. Depois chegou pra mim e disse ‘Não vai dar mais. Por que João Maia me emprestou o dinheiro e eu vou comprar o carro pra mim mesmo’. Nós ainda tínhamos 6 meses para terminar a sociedade e depois realmente comprar o carro, e eu coloquei mesmo esse carro para trabalhar. Fizemos vários eventos, quadrilhas, São João na região e cumprimos até o ultimo dia. Zé sofreu por que coloquei mesmo esse carro para rodar e ganhar dinheiro. Teve até um São João na Paraíba, já no Sertão... E depois de 6 meses o carro ficou apenas para ele”, relembra.
O Bocão – Era pós-sociedade
Com o fim da sociedade, José Augusto ficou com o Trombetão, carro de muito sucesso à época e Ronaldo Paca concentrou poder de produção e trabalho na banda de forró ‘Sabor de Mel’. Com estrutura de som, e a necessidade política não demorou a surgir ‘o Bocão’, que para muitos, era um contraponto ao Trombentão do ex-aliado.
“Após a sociedade veio a banda Sabor de Mel. E a banda levou o nome de Santa Cruz para longe. Depois veio a campanha de Ernando, o Trombetão já fazia campanha do outro lado, e do lado de Ernando não tinha nada. Ele comprou um caminhão e eu entrei com a estrutura de som. Isso formou o Bocão, que passou a figurar de forma ainda mais forte nas cidades com a banda e o trio. Viajávamos fazendo os carnavais tradicionais da Região Metropolitana, tanto que tocamos em dois réveillon seguidos em Tamandaré”, conta.
Início na (e da) Rádio Vale do Capibaribe
A história da comunicação em Santa Cruz do Capibaribe passa diretamente pela história da Rádio Vale do Capibaribe, a primeira da cidade. Ronaldo Pacas faz parte do seleto time que iniciou em seus quadros, na fundação, em 29 de dezembro de 1985. Á época tinha como companheiros Jota Oliveira, Geraldo Costa, João Nunes, Flávio Silva, Compadre Neto, Amaro Dias, entre tantos outros saudosos comunicadores da Capital das Confecções.
“Estatisticamente, eu fui o apresentador do primeiro programa a entra no AR. Por que a rádio abriu às 6h da manhã com a solenidade de inauguração e muitas entrevistas de vários políticos, Zé Mendonça, Marco Maciel... Muitos poetas e violeiros que também foram convidados para a festa. Durante o dia muita movimentação, e à noite foi ao AR a programação em definitivo, com o programa ‘A noite é nossa’”, relembra.
Escolta policial e cartas de ouvintes... o que tem haver? – O sucesso do programa noturno
Ronaldo passou cerca de oito anos apresentando o programa ‘A noite é nossa’, que por vezes chegou a terminar após as 2h da madrugada. O programa era um sucesso e, num período em que não existia celulares, mensagem de texto, facebook ou aplicativos de conversações, ele recebia centenas de cartas de ouvintes fiéis.
O problema é que á rádio ficava em território distante da cidade, cercado de marmeleiros, o caminho para voltar para casa não era dos melhores, e por vezes, a polícia era solicitada para fazer a escolta dos comunicadores até o bairro da COHAB, onde eram avistadas as primeiras casas.
“Teve semanas que chegamos a receber cerca de 500 cartas. E estendemos o programa até às 2h. Lembro que com o Soldado Nunes, a gente solicitava a polícia para uma espécie de escolta, no tempo com uma veraneio. A gente ajudava no combustível, um pneu... e ele traziam até onde tinha casa, por que a Rádio era dentro do mato.
O boa noite do prefeito-maestro
Outro programa de muito sucesso na emissora aconteceu durante o mandato do prefeito Augustinho Rufino de Melo. “Boa noite Maestro”, fazendo uma referencia ao gestor, que havia sido maestro da banda Sociedade Novo Século, trazia muita política e músicas.
“Boa noite maestro foi uma ideia do então prefeito Augustinho Rufino. Ele era maestro e falava de política e também tocava umas músicas de bandas que hoje estão esquecidas. As pessoas mandavam LP’s e tínhamos um bom acervo. Aos sábados às 6h da tarde, era música boa e política pra valer”, diz.
Fator fundamental em guias eleitorais
Por vários anos, Ronaldo Pacas foi ‘a voz’ da oposição no rádio da cidade. Além de, em campanhas, ser responsável por guias eleitorais. Entre tantas disputas, as vitórias de Ernando Silvestre marcaram justamente por conta de produções dos guias.
“Houveram duas eleições marcantes. Tanto que depois de uma delas, passei muitos anos sem falar com Oseas Moraes. Vim falar com ele agora nesses últimos anos. Não quero dizer que forçamos uma derrota dele para Ernando, mas fizemos um trabalho muito bem feito, nessa campanha . Houve uma entrevista de uma mulher em que teatralizamos para o rádio . E depois teve a campanha contra o Padre em que até hoje gera polêmica por conta da entrevista do pai do Padre (O pai do Padre Bianchi não queria o filho candidato e detonou o filho em guia eleitoral. O Padre diz até hoje que se aproveitaram do seu pai, num momento em que o mesmo não tinha condições mentais, segundo ele, de dar uma entrevista). Nada ali foi montado, era verdade e sofremos muitas ameaças depois, mas foi repetido em outros horários, por que ele foi de livre e espontânea vontade”, conta.
O ‘James Bond’ de Santa Cruz
Entre amigos, um apelido do radialista remete ao início dos anos 90. No período, Paca era inquieto para descobrir de onde era uma rádio pirata que ouvia constantemente, quando astutamente descobriu, e ganhou a carinhosa alcunha de agente 007. A Rádio constatada era a “Nova Dimensão”, que funcionou entre 90 e 94 de forma clandestina.
“Naquele tempo existia rádio pirata mesmo, de verdade. E acabamos descobrindo de onde e quem fazia parte, que era meu amigo Melk Leão, um artista junto com o ‘figura’ Vicente e toda uma turma boa. Fiz até umas passagens depois para eles e ficou como o ‘agente 007’”, recorda rindo e acrescenta “Nunca denunciaram por que dava mesmo prazer ouvir a rádio”.
E o candidato é Ronal... Não, é Nanau!
Atualmente um dos 17 vereadores na Casa José Vieira de Araújo, só resolveu concorrer definitivamente em disputa eleitoral, em 2012, quando foi eleito com 829 votos. Poderia ter sido antes. Poderia... Essa referencia como a voz oposicionista, lhe deixou em boas condições de ser até candidato a prefeito ou vice do grupo boca-preta, por duas vezes. Principalmente em 2004, no entanto...
“Me passaram a perna. Eu cheguei do Recife para uma festa que teve na fazenda de João Januário, onde tinha uma multidão que queriam ver a consagração da chapa. Mas quando cheguei uns amigos vieram me esculhambando, perguntando por que eu havia retirado a candidatura. Eu não entendi nada. Não sabia de nada. Tinha acabado de chegar do Recife. Passaram a perna em mim e disseram que eu tinha retirado a candidatura”, diz acrescentando que tinha pesquisas em mãos que mostravam seu nome à frente de Dr. Nanau, candidato derrotado à época ao lado de Dida de Nan, para José Augusto Maia e Zé Elias.
“Alegaram depois ainda que eu era do PSDB e Nanau também era do PSDB. E tinha o PFL de Zilda e mais algumas pessoas que reivindicaram a vaga de vice, para não ficar uma chapa puro sangue. Eu não tenho mágoa disso, foi bom que perdeu e aprendeu, por que a gente vinha bem e fizeram essa sacanagem. Depois eu fui embora e uma multidão veio comigo dizendo que era pra mim mudar de partido, até”, conta.
Para vice outra ‘luta’ – “Teve uma noite na AABB que tinham três vices. Zé Cueca, Zé Minhoca e Dida de Nan. Apareciam e desistiam. No fim foi Dida”, relembra.
Briga e rádio fora do AR
De discurso forte durante toda sua vida nos microfones, um episódio por pouco não chegou às vias de fato, com o ex-prefeito José Augusto Maia (2000-2008). Após críticas no AR por uma Blitz na cidade, supostamente convocada pelo gestor para paradas educativas, estaria multando. Ronaldo e outros funcionários da emissora foram surpreendidos por Zé e Vereadores. O prefeito alterado queria explicar a situação quando a rádio “de repente” saiu do AR.
“Estava no AR, quando chega uma pessoas mostrando uma multa por que estava atrasada. E eu ‘desci o cacete’ por que numa questão educativa não poderia multar. E depois disso chegou Zé, Ernesto e Deomedes querendo tirar satisfação. Leno Silva tentou amenizar e levou um empurrão. Depois a rádio saiu do AR e ele disse que só ia embora quando falasse ao vivo.
Brabeza, cadeira, e faca - Com os ânimos acirrados, Ronaldo diz que Zé ainda esboçou pegar uma cadeira e lembra que uma faca que estava nas mãos era apenas de um lanche que tinha acabado de fazer. “Eu tinha acabado de tomar um café, era uma faca de serra. Zé levantou a voz disse que era safado, eu respondi ‘safado é você’, nisso ele pegou uma cadeira e eu avisei, ‘se levantar uma cadeira fica pior’”.
No fim de tudo, a rádio não voltou ao AR. Até hoje sem explicações se realmente caiu ou retiraram o sinal propositalmente para o prefeito não falar.
Ping- Pong
Padre Zuzinha – Exemplo
Ernando Silvestre – Bom Prefeito
Augustinho Rufino –Professor de política
José Augusto – Um expert na política
Hildo Teixeira – Um grande comunicador, exemplo a ser seguido
Rádio Vale do Capibaribe – A minha casa que pedi a Deus. Vou completar trintas anos nela e será um marco, um filho da terra entrando e saindo pela mesma porta.
Pedro Maia – Maior fuxiqueiro da cidade. O maior veículo de comunicação ambulante com dois pés, falando e andando. Tudo que se passava mesmo sem enxergar, percebia mais que todos nós.
Ernesto Maia - Uma figura. Sempre admirei pelo seu trabalho. Dedicado, torço pelo seu sucesso.
Zilda Moraes – Teve seu tempo, obteve sucesso, que tenha novamente se quiser ainda volta a política.
Jânio arruda – Que possa concretizar seus sonhos, mas de minha parte eu já conheço e não mais contará comigo. É remédio vencido.
Mendonça Filho – O Brasil tá vendo quem é Mendoncinha. Exemplo nacional, de política corretíssima até que se prove o contrário.
José Mendonça - Muita saudade, merece uma homenagem em Santa Cruz.
Edson Vieira – Apesar de ser jovem está fazendo escola, me orgulho de estar no patamar de ser um aluno, aprendo muito com ele.
Boca Preta – Minha história. Quero permanecer, mas não sabemos o dia de amanhã, minha vontade é de permanecer, prefiro continuar ainda.
Taboquinha – Respeito a todos espero que agora façam algo para engrandecer Santa Cruz do Capibaribe, para que não exista apenas a divisão, mas políticos sérios.
Santa Cruz do Capibaribe – Meu amor, minha paixão cidade querida onde quero ser enterrado.
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