quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Agora o Cunha é Ruim?

Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, recentemente cassado e que ontem foi preso preventivamente pela Polícia Federal por ordem do Juiz Sergio Moro, é certamente um dos políticos mais habilidosos da história do país. Um dos mais corruptos também. Dono de uma campanha com valores declarados de 6,8 milhões de reais nas eleições de 2014, no último mandato Cunha destacou-se pela capacidade de acumular força política e manipular o andamento dos trabalhos na Câmara. 

A campanha milionária é fruto do lobby feito durante o mandato entre 2011 e 2014. Não por acaso, as maiores doações a Eduardo Cunha foram provenientes de empresas “beneficiadas” pela ação parlamentar de Cunha, como os 900 mil da Telemont (que teve seus interesses defendidos por Cunha na Construção do Marco Civil da Internet), o 1 milhão de reais da Rima e os 700 mil da Vale (que tiveram seus interesses defendidos por Cunha na indicação de relator de Projeto de Lei que aumentava impostos para Mineradoras), dentre outras. O Lobby parlamentar é crime no Brasil e é o principal argumento daqueles que se posicionam contra o financiamento empresarial de Campanhas.

Eduardo Cunha, entretanto, usou de outros métodos para conseguir aliados. Foi, por exemplo, o grande articulador da manobra que colocou Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ganhando, assim, a fidelidade do PSC de Feliciano e Bolsonaro, inclusive na votação de sua cassação. Também negocia cargos e vantagens com governos desde os anos 1980 e teve ligação direta com, por exemplo, Paulo Cesar Farias, tesoureiro de Collor, morto em crime até hoje mal explicado, com indícios de queima de arquivo. 

Cunha responde a processos oriundos de quase todos os cargos que ocupou a exemplo da Telerj e da Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro – CEHAB. Processos que incluem falsificações de documentos e de assinaturas para arquivamento de processos. Ou seja, além de sua base de votos religiosa, Cunha não tinha muitos motivos para ser admirado por ninguém.

Um fato recente, porém, fez Eduardo Cunha ganhar apoiadores, admiradores e, pasmem, defensores. Manifestações de apoio e até uma hashtag #SomosTodosCunha tornaram-se comuns em atos públicos contra o governo Dilma. Uma das últimas articulações de Cunha na Câmara foi a busca por apoios na votação do Relatório que pedia sua Cassação no Conselho de Ética. Ao ter a negativa do PT e de partidos da base do governo, Cunha rompe oficialmente com o Governo Dilma em um Pronunciamento em Rede Nacional.

A comemoração pela cassação de Cunha é unânime. Ele encontra-se hoje isolado. Porém, esse mesmo povo aplaudia Eduardo Cunha em novembro de 2015 (há menos de um ano), quando o então Presidente da Câmara acatou o pedido de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, baseado em argumentos ainda hoje discutidos no meio jurídico, por atos praticados por diversos ex-presidentes e governadores e ex-governadores, dentre eles Antônio Anastasia, do PSDB, que foi relator do Processo no Senado. Eduardo Cunha, preso pelo aclamado juiz Sergio Moro ontem, foi o grande responsável pela saída da Presidenta eleita em 2014.

O que particularmente me deixa incomodado é grande parte da opinião pública achar razoabilidade no fato de Cunha ter sido o grande protagonista da construção do impeachment. Sua biografia mostra que sua carreira política e sua vida profissional foram pautadas em agir sempre em benefício próprio. Aí eu pergunto: será que com o impeachment foi diferente? Os áudios vazados por Sergio Machado, além de toda a Biografia de Eduardo Cunha não são suficientes para se ter um pé atrás com ele? 

Se não for, vale uma pesquisa sobre as relações entre “o herdeiro do trono”, Michel Temer, e Eduardo Cunha, a quem o presidente interino afirmou na campanha de 2014 “confiar as tarefas difíceis”. Cunha é um criminoso. E seu crime se chama Lobby. O grande câncer da política brasileira. O pai da corrupção. Cunha fez lobby a vida inteira por todos os cargos que ocupou. Muita ingenuidade não compreender que o processo de impeachment foi mais uma ação do grande lobista Eduardo Cunha. E pelas ações do governo de seu parceiro Temer e de seu partido, o PMDB, não é muito difícil entender a quem ele prestou serviço.

Com a prisão de Eduardo Cunha pode acontecer tudo, inclusive nada. Estejamos atentos aos desdobramentos dessa prisão nos próximos dias.

Seguem alguns links com as referências jornalísticas deste texto:







Paulinho Coelho, Presidente do PCdoB em Santa Cruz do Capibaribe.
20/10/2016 

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