quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Pressa, para que pressa?!

Em tempos de jornalismo móvel e acesso quase que instantâneo das notícias onde quer que estejamos, me veio a inquietação – não de agora – como essas notícias são construídas? Isso porque trabalhei em jornal impresso por quase sete anos tanto como repórter como editora de caderno e vi os dois lados da apuração/redação/edição, e posso dizer que não é um trabalho fácil, já que temos pouco tempo e prazo “para ontem” para terminar e finalizar o jornal.

Nesse texto de hoje vou defender um pouco o jornalismo impresso, apesar de ser fã número 1 do jornalismo digital. Na verdade, quero mais discutir essa questão do antagonismo entre qualidade e prazo. Todos nós sabemos que não tem nada de novo essa máxima no jornalismo. No entanto, com os meios digitais, a dualidade prazo versus resultado emerge em um novo contexto. E como professora e pesquisadora, discutir essa questão é fundamental. 

Lembro, em tempos de repórter, quando saia para cumprir três pautas em uma manhã e voltava de inúmeras entrevistas (sim, acho imprescindível encontrar a fonte pessoalmente) com tudo anotado no papel – ainda hoje prefiro, quando possível, escrever as informações no papel que depois só eu vou entender. No meio do caminho aproveitava para já escrever a mão o lead e se tivesse mais tempo já redigia o restante da matéria. 

Ao chegar à redação, comentava com os colegas uma coisa ou outra do que fui cobrir; parava para tomar um café; e sentava na frente do computador para começar a digitar tudo aquilo que vivenciava horas atrás. Antes de concluir tinha que fazer uma ligação para uma fonte, que às vezes não atendia ou conversava demais. Outras fontes pediam para mandar as informações no outro dia por email – sem ter a noção que as informações são para ontem. 

Ou então, como editora, ficava desesperada quando já estava na hora do fechamento do caderno e a repórter ainda estava na rua e só faltava aquela matéria para finalizar. Enquanto isso, o pessoal da gráfica já cobrava a página, pois só faltava ela para mandar rodar o jornal. 

Enfim, rotina que em tempos de internet, como a conhecemos hoje, ainda acontece nos jornais impressos. E o que dizer do jornalismo móvel, que o repórter sai para rua, já leva o notebook, quando termina a entrevista já digita no local do fato e manda para redação, e em questão de minutos aquela matéria será publicada no portal, blog ou nas redes sociais?

Estruturalmente, a situação de hoje tem tudo para ser melhor, não acham?! Só que, em muitas ocasiões o que vemos são “matérias”, com aspas, copiadas dos jornais impressos sem citar a fonte; com informações incompletas por causa da correria exigida; ou então, muitos jornalistas nem se dão ao trabalho de checar a informação e fazem um copydesk do release que receberam e publicam como se fosse feito por eles. 

Não devemos pensar que o futuro, aquele bem ali na nossa frente, é algo para o qual devemos nos entregar passivamente, mas sim, precisamos influenciar e participar do rumo e construção desse futuro que nos espera para que as informações nos cheguem de forma precisa e confiável.

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