Do Agricultor que virou Comerciante, do Comerciante que se transformou em Fabricante, do Fabricante que precisa ser “Empresário”
Os primórdios da atividade confeccionista de Santa Cruz do Capibaribe datam o início da década de 50, na época, a cidade dispunha de um grande contingente de mão-de-obra com habilidades para os afazeres de costura, aliado a isso a economia de subsistência até então vigente, a agricultura, encontrava-se em declínio e a população precisava encontrar uma nova atividade produtiva que garantisse o sustento das famílias (XAVIER, 2009).
Foi nesse contexto que surgiu a indústria de confecção local, uma indústria forjada por adversidades estruturais e tecida pelas habilidades dos que aqui firmaram suas vidas e sonhos. Atualmente essa atividade produtiva é responsável pelo dinamismo econômico verificado na região, e gera índices expressivos de emprego, renda e riqueza, chegando a comportar quase 8.000 fábricas e ofertar 38.973 empregos (SEBRAE, 2013).
Analisando esses dados fica nítido a capacidade empreendedora desse povo e as habilidades locais no que tange a confecção de vestuário, sendo inegável a beleza dessa história, embora seja igualmente inegável a necessidade de se virar a página, e quando falo “virar a página” me refiro a demanda atual por modernização e a conscientização de que as práticas comerciais aplicadas na década de 50 não são mais coerentes com o contexto atual do mercado.
Isto porque a gestão dos negócios da cidade ainda é feita sob moldes tradicionais, já que segundo dados do SEBRAE (2013) as empresas do arranjo de confecção do agreste são administradas em sua grande maioria pelos proprietários (82%) ou pelos proprietários e familiares (93%). Outro dado que demonstra a necessidade de adoção de novas práticas gerenciais é o fato de apenas 56% das empresas aplicarem controle de qualidade no processo produtivo, uma vez que a qualidade deixou de ser diferencial competitivo para se tornar item indispensável em qualquer tipo de indústria, além disso, 95% das empresas do arranjo não oferecem programas de treinamento para os colaboradores, o que dificulta a melhoria processos e produtos, e 53% das empresas desenvolvem suas coleções através de cópias, o que demonstra a fragilidade do arranjo no tocante a introdução de inovações e a criação de uma identidade própria no mercado.
A gestão familiar demonstra que os empresários locais anda não gerem suas empresas com base no profissionalismo, tendência mundial e irreversível, já a falta de controle de qualidade indica que o foco é a quantidade, modelo ultrapassado desde a crise de superprodução de 1929 e a falta de treinamentos e o desenvolvimento de coleções distanciam as empresas locais da nova ordem do mercado: “foco no cliente e qualidade de vida dos colaboradores”. Tudo isso dificulta o crescimento e a modernização do arranjo e diminui sua competitividade e impede a ascensão dos produtores locais à empresários.
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