terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Do Agricultor que virou Comerciante, do Comerciante que se transformou em Fabricante, do Fabricante que precisa ser “Empresário”  

Os primórdios da atividade confeccionista de Santa Cruz do Capibaribe datam o início da década de 50, na época, a cidade dispunha de um grande contingente de mão-de-obra com habilidades para os afazeres de costura, aliado a isso a economia de subsistência até então vigente, a agricultura, encontrava-se em declínio e a população precisava encontrar uma nova atividade produtiva que garantisse o sustento das famílias (XAVIER, 2009). 

Foi nesse contexto que surgiu a indústria de confecção local, uma indústria forjada por adversidades estruturais e tecida pelas habilidades dos que aqui firmaram suas vidas e sonhos. Atualmente essa atividade produtiva é responsável pelo dinamismo econômico verificado na região, e gera índices expressivos de emprego, renda e riqueza, chegando a comportar quase 8.000 fábricas e ofertar 38.973 empregos (SEBRAE, 2013). 

Analisando esses dados fica nítido a capacidade empreendedora desse povo e as habilidades locais no que tange a confecção de vestuário, sendo inegável a beleza dessa história, embora seja igualmente inegável a necessidade de se virar a página, e quando falo “virar a página” me refiro a demanda atual por modernização e a conscientização de que as práticas comerciais aplicadas na década de 50 não são mais coerentes com o contexto atual do mercado. 

Isto porque a gestão dos negócios da cidade ainda é feita sob moldes tradicionais, já que segundo dados do SEBRAE (2013) as empresas do arranjo de confecção do agreste são administradas em sua grande maioria pelos proprietários (82%) ou pelos proprietários e familiares (93%). Outro dado que demonstra a necessidade de adoção de novas práticas gerenciais é o fato de apenas 56% das empresas aplicarem controle de qualidade no processo produtivo, uma vez que a qualidade deixou de ser diferencial competitivo para se tornar item indispensável em qualquer tipo de indústria, além disso, 95% das empresas do arranjo não oferecem programas de treinamento para os colaboradores, o que dificulta a melhoria processos e produtos, e 53% das empresas desenvolvem suas coleções através de cópias, o que demonstra a fragilidade do arranjo no tocante a introdução de inovações e a criação de uma identidade própria no mercado. 

A gestão familiar demonstra que os empresários locais anda não gerem suas empresas com base no profissionalismo, tendência mundial e irreversível, já a falta de controle de qualidade indica que o foco é a quantidade, modelo ultrapassado desde a crise de superprodução de 1929 e a falta de treinamentos e o desenvolvimento de coleções distanciam as empresas locais da nova ordem do mercado: “foco no cliente e qualidade de vida dos colaboradores”. Tudo isso dificulta o crescimento e a modernização do arranjo e diminui sua competitividade e impede a ascensão dos produtores locais à empresários.


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